O último de uma era, o primeiro de uma geração
A produção de Thriller durou cerca de nove meses e marcou a segunda parceria entre Jackson e Jones, que se inicou em Off The Wall. O ritmo de R&B e disco que foi implantado no primeiro álbum solo de MJ, não sumiu no álbum seguinte, no entanto, deu lugar a uma série de mudanças que marcariam a gravação do mesmo. Aos poucos, o mundo eletrônico começava a tomar conta dos estúdios, baterias e sintetizadores apareciam como uma aposta de tendência nos próximos anos.
Thriller foi um dos últimos discos a ser predominantemente analógico. Alguns trechos de bateria eletrônica foram usados, mas o montante final do disco foi usado da maneira tradicional. De acordo com Quincy Jones, a intenção era manter as “sujeiras” do som. “É limpo demais, e não quero que minha música soe assim, pois ela não é concebida desta forma. A música é concebida com paixão e deve soar assim”, declara o produtor no livro A Vida e a Música de Michael Jackson, de George Benson.
Não se sabe ao certo quantas músicas foram escolhidas para o início dos trabalhos. Relatos contabilizam mais de 100 composições, escutadas uma a uma por Michael, que com a ajuda de Jones escolheu nove. Além da genialidade dos colaboradores, o processo de seleção talvez tenha sido a etapa mais importante para o sucesso de Thriller. Faixas como “Billie Jean”, “Beat It”, “Human Nature” e “Wanna Be Startin Something” carregam uma série de significados embutida desde as letras até os arranjos. Sem contar na parceria com Paul McCartney em “The Girl is Mine”.
A mistura de ritmos e a inserção de gêneros alheios ao soul e R&B foram preponderantes para a disseminação do álbum. Numa época onde ainda existia o preconceito em combinar instrumentos dentro da música negra, “Beat It” apresentou um solo de guitarra que mudou a música. Os segundos que Eddie Van Halen toca na faixa fizeram inúmeros críticos taxarem o álbum como algo “branco demais” para um artista negro. Ou criticar os ritmos africanos de “Wanna Be Startin Something” por não se encaixarem com o padrão do soul e funk dos últimos trabalhos de Michael Jackson.
Posteriormente, os mesmos céticos ratificariam a miscêlania de Thriller como a bíblia da música pop contemporânea. Como dois gênios a frente de suas realidades, Jackson e Jones montaram um conjunto de músicas e referências transcendentes ao tempo. Em questão de semanas, o álbum se tornou um fenômeno, vendendo cerca de 500 mil cópias por semana e encerrando 1983 com quase 30 milhões de discos vendidos. Além disso, sete singles foram lançados e alcançaram o topo das paradas. Na maior premiação musical da época, o Grammy Awards, o álbum estabeleceu o recorde de oito premiações em uma noite.
Um marco para a cultura pop mundial
Outro importante fator para o alcance mundial de Thriller foi o seu apelo visual – a começar pela capa inusitada, com MJ e um tigre de colo. Após os clipes filmados com baixa produção de Off The Wall, o cantor começou a investir em suas habilidades narrativas e no gosto pelo cinema. O primeiro exemplo foi o clássico vídeo de “Billie Jean”, onde ele escapa de um papparazzi, ao mesmo tempo em que dança em uma calçada iluminada pelos seus passos.
Este vídeo era a prévia do que se tornaria a apresentação mais famosa da carreira do Rei do Pop. No palco da festa de aniversário de 25 anos da Motown, o Jackson Five se apresentou e em seguida deixou Michael sozinho no palco. De jaqueta, camisa, luva e meias brilhantes, um chapéu, calça e sapatos pretos, ele começou a cantar “Billie Jean”, fez o moonwalk e entrou para a história. Dali em diante, a vida de MJ mudou, Thriller se tornou um sucesso e a trajetória da cultura pop ganhou novos rumos.
Os aparatos brilhantes da música mais clássica do álbum ganharam outros companheiros, apresentados durante clipes que também marcaria época, como a jaqueta vermelha de “Thriller”, por exemplo. Esta faixa, inclusive, ganhou um vídeo com lobisomens e zumbis, enquanto “Beat It” trouxe uma rixa entre gangues – ambos com icônicas coreografias feitas por Jackson em parceria com Michael Peters. A era de videoclipes superproduzidos começou ali, assim como a ascenção de emissoras totalmente destinadas à música, o que elevaria a popularidade de inúmeros artistas.
O sucesso deste álbum foi tão importante para indústria fonográfica – que àquela época já não contabilizava bons números -, quanto para a música negra no show business. Existiam ídolos como Stevie Wonder, Donna Summer e Marvin Gaye, no entanto, nenhum deles conseguia ultrapassar a barreira do preconceito. Se no rock Jimi Hendrix conseguiu mudar esta visão, Michael Jackson levou isso a outra dimensão, tornando a sua música aceita pela população em geral, independente de gênero ou cor. A ascensão de artistas como Whitney Houston e Eddie Murphy, por exemplo, estão diretamente ligadas ao sucesso de Thriller, por mais distante que as áreas de entretenimento estejam.
Tal qual o planejamento de Quincy Jones e Jackson quando começaram a gravar, o álbum não ficou datado, muito menos esquecido. Até hoje músicos usam samples de faixas (Rihanna, em “Don’t Stop The Music”), ou mesmo regravam sucessos (Fall Out Boy, com “Beat It”). Musicais já foram inspirados no disco e até espetáculos circenses tem boa parte de seus atos baseados nele.
Símbolo de uma geração, Thriller é um exemplo da genialidade de Michael Jackson e uma obra-prima musical que foi capaz de mudar a história da música em diversos aspectos.
Thiago Romariz
http://brasil.mjjunderground.com/2012/11/30/album-thriller-faz-30-anos/
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