quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ciência contra o crime - Caso MJ

Foi cogitado que Michael Jackson poderia ter morrido por interação medicamentosa entre demerol e MAOI. Não foi demerol, mas propofol. Segundo o médico legista chefe de Los Angeles, Dr. Sathyavagiswaran, a morte de Michael foi o resultado da administração de doses letais do anestésico propofol (comercialmente conhecido por diprivan). É o que consta na avaliação toxicológica prelimiar divulgada ontem.

Jackson morreu no dia 25 de junho passado. No mesmo dia, Conrad Murray, médico particular do cantor, confessou ter ministrado valium (1h30min da manhã), lorazepam (2h), midazolam (3h), várias outras drogas não divulgadas (entre 4h e 10h) e, finalmente, 25mg de propofol (10h40min). Era tudo que um hipocondriaco, como seu paciente, queria!

Certo, mas 25mg de 2,6-di(propan-2-yl)phenol, nome sistemático do propofol, é letal? A bula do medicamento diz que "é possível que uma superdose acidental acarrete depressão cardiorrespiratória". Até aqui, tudo de acordo: conforme divulgado, Jackson teve uma parada cardiorrespiratória. E quanto à dose? Diz a bula: "A maioria dos pacientes adultos com menos de 55 anos [...] possivelmente requererá de 2,0 a 2,5 mg/kg de Propofol". Então, para que 25mg fosse uma dose letal, Michael Jackson deveria pesar menos de 10kg. Apesar de extremamente magro, duvido que o popstar tivesse peso próximo disso.

Sites paparazzi afirmam que, em 03 de junho, Michael estava muito magro e que seu índice de massa corpórea (IMC) estava abaixo dos níveis saudáveis. Sites diversos trazem a informação de que ele tinha 1,81m de altura. Se seu IMC esta muito abaixo do saudável, então deveria estar abaixo de 18,5. Como o IMC é calculado atraves da divisão do peso (em kg) pelo quadrado da altura (em metros), chegamos a conclusão de que seu peso deveria ser abaixo de 60,6kg.

Pesando 60kg, a dose requerida de propofol seria entre 120 e 150mg (considerando as informações da bula). Então, como 25mg teriam o matado? Aqui ficamos com duas hipóteses: 1) Conrad Murray mentiu no depoimento, ministrando muito mais de 25mg do sedativo; 2) houve algum tipo de interação medicamentosa entre propofol e as outras drogas ministradas pelo médico. Vale ainda dizer que essas hipóteses não são mutuaemente excludentes (ou seja, a ocorrência de uma não excluia a outra).

Já diziam meus professores: "o testemunho é a prostituta das provas". Não é pouco provável que Murray esteja mentindo. Afinal, ele é o principal investigado no caso. Logo, a primeira hipótese é , no mínimo, plausível.

Quanto a segunda hipótese, consultando novamente a bula do propofol, temos que "as necessidades de dose de indução de Propofol podem ser reduzidas em pacientes com pré-medicação via intramuscular ou intravenosa, especialmente com [...] combinações de opióides e sedativos (p. ex., benzodiazepinas, barbitúricos, etc.). Esses agentes podem aumentar o efeito anestésico ou sedativo de Propofol, podendo também resultar em reduções mais acentuadas nas pressões arteriais sistólica, diastólica e média e no débito cardíaco". Reparem que valium, medicamento ministrado pelo médico, é o nome comercial do diazepan, um benzodiazepínico. Lorazepam e midazolam, também ministrados, também são benzodiazepínicos.




Em outras palavras, todos as drogas confessamente aplicadas pelo Dr. Conrad Murray potencializam o efeito do propofol. Aceitando as duas hipóteses, é possível que a dose administrada tenha sido maior que 25mg, mas não necessariamente maior do que a recomendada, pois o efeito do sedativo teria sido potencializado por interação medicamentosa.

Se foi o que aconteceu, não se pode dizer. Entretanto, se ao menos faz sentido já valeu pelo exercício mental.

http://cienciacontraocrime.blogspot.com/2009/08/caso-jackson-demerol-nao-propofol.html

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