É incrível como algumas pessoas tem um dom especial de tocar nossa vida, uma única vez, e mudar tanta coisa. Mesmo que ele não tivesse toda essa voz, acho que nunca precisaria falar alto para se fazer ouvir: a simpatia é a forma com que melhor se expressa o pai da “soul music”, Billy Paul.
Percebi uma generosidade e simpatia latentes logo que chegou à suíte. Era onde gravaríamos a entrevista, no hotel de frente para a praia de Copacabana. Um olhar calmo e inspirador. Isso mesmo: inspirador. Billy Paul tem uma humildade que inspira qualquer pessoa, seja para uma gravação ou para um chopp na esquina. Flui conversar com uma pessoa de tão bom coração que, vem justamente de um meio que já "abduziu" tantos com o brilho da fama. A experiência das drogas é apenas o passado, empregado agora no presente, na conscientização de jovens da igreja ou em palestras, sobre perigo dos entorpecentes.
Nunca vou poder dizer que fiz uma entrevista com Billy Paul. Foi apenas um" bate-papo" que acabou sendo gravado. Conversa que, apesar do trocadilho do chopp, logo acima, não se encontra em cada esquina. Claro que na televisão cada minuto é precioso e por isso editado nas reportagens. Mas o material bruto, sem edição de todo o tempo da conversa, daria um livro. Desde que o chamasse apenas de “Billy”, até celebrar que Copacabana vai ganhar um museu no lugar da “Help”: sim, falamos de tudo.
Copacabana vista do vigésimo sétimo andar também foi assunto de tal prosa. Fiquei surpreso ao saber que Billy Paul já tinha vindo ao Rio mais de 50 vezes. “Quando vejo em fotos, o Cristo, lá em cima, de braços abertos eu posso chamar este lugar de paraíso.” - disse ele com um olhar apaixonado e peito palpitante de quem não é daqui mas consegue provar por “A” mais “B” que tem sangue carioca na veia. Que delícia ver esse carioca, nascido na Philadélfia, falar tão bem dessa cidade.
Se ajoelhou tem que rezar, right mister Paul? “Vamos conferir então essa beleza toda de perto?” perguntei. Fiquei surpreso com a resposta que dizia mais com os olhos do que com a boca. “Sure, let´s go!” - disse ele, empolgado. Em pleno calçadão de Copacabana descobri que qualidade musical não pinça gerações: simplesmente arrebanha todas. Eram crianças, adolescentes, adultos e tantos senhores e senhoras que vinham cuprimentá-lo. Falamos de Gil, Gal e Caetano. Além de Tim Maia, conversamos sobre outro gênio da música que infelizmente já perdemos: Michael Jackson. Billy Paul era próximo a Michael, e nutria um sentimento que oscilava entre o paterno e fraterno. Até hoje Billy Paul conta que é difícil olhar qualquer imagem dele na televisão e aceitar que Michael realmente se foi.
Para alegrar a conversa, passemos da música de Jackson parafalar então da música de Paul? Ele cantou a canção predileta dele, e ainda me permitiu ousar - sendo quase atrevido - a sugerir um dueto com ele. “Only The Strong Survive” era mais que a música naquele momento: era a definição - ou explicação – do porquê com 60 anos de carreira, Billy Paul ainda consegue deixar uma casa de shows como o “Vivo Rio” com pessoas de pé até nos corredores laterias.
Essa força toda, tanto física como espiritual, me fez confessar logo depois das câmeras desligadas: já entrevistei presidentes do Brasil, dos Estados Unidos, celebridades e pessoas marcantes. Mas entrevista com alguém com a humildade de Billy Paul... nunca! A explicação? “Bem... eu tenho 75 anos amigo.” - dissse ele.
Billy Paul mostra, em cada conversa, exatamente isso: que os anos que passaram não deixaramm nada nas costas além de experiência. É isso que diferencia a "fama" de "prestígio". Billy Paul tem os dois, e aprendeu a lidar com isso.
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